Eles não são mais crianças, a importância e o desafio da intervenção na vida adulta

A transição da adolescência para a vida adulta é uma fase crítica, mas muitas vezes negligenciada. A escola, que era um ambiente estruturado, com equipe multidisciplinar e rotina definida, chega ao fim. E o que vem depois?

Entre os desafios enfrentados por adultos autistas estão:

• Falta de oportunidades de emprego adaptadas às suas habilidades;
• Ausência de moradias inclusivas e respeitosas;
• Baixa capacitação dos profissionais que os atendem;
• Desconhecimento sobre como lidar com temas como sexualidade, fé e segurança;
• Risco de exclusão social e institucionalização.

O impacto disso tudo recai não apenas sobre os próprios adultos autistas, mas também sobre suas famílias, que acabam sobrecarregadas física, emocional e financeiramente.

É possível fazer diferente

A boa notícia é que existem soluções. E elas passam por três pilares: informação, planejamento e ação.

• Planejamento individualizado: É essencial começar cedo a preparar a vida adulta. Isso inclui desenvolver habilidades práticas (como cozinhar, usar transporte público, se comunicar no ambiente de trabalho) e traçar objetivos realistas junto com a pessoa autista.
• Uso de práticas baseadas em evidências: Intervenções como Análise do Comportamento Aplicada (ABA), quando bem aplicadas, continuam sendo úteis na vida adulta — especialmente na aprendizagem de habilidades complexas, como manter um emprego ou morar de forma semi-independente.
• Mudança de visão social: É preciso deixar de ver adultos autistas como “deficientes eternos” e enxergá-los como pessoas com potencial, interesses e capacidade de contribuir com a sociedade.

Como pais podem agir?

• Informe-se: Conheça os direitos de seu filho como adulto. Procure associações, fóruns e redes de apoio.
• Planeje cedo: A transição para a vida adulta começa muito antes dos 18 anos. Envolva a escola, terapeutas e o próprio jovem no processo.
• Não se cale: Exija políticas públicas, pressione por serviços adequados, compartilhe sua experiência
• Valorize o protagonismo: Sempre que possível, permita que seu filho participe das decisões sobre sua própria vida.

Conclusão

Adultos autistas não são crianças presas em corpos grandes. São pessoas com trajetórias únicas, com direito ao trabalho, ao amor, à fé, à liberdade, à saúde e ao respeito. Olhar para a vida adulta com seriedade é uma forma de honrar essas pessoas e garantir que, ao crescer, elas não sejam deixadas para trás. Nenhuma família deveria enfrentar esse caminho sozinha. Precisamos de políticas, profissionais e uma sociedade preparada para acompanhar o autista em todas as fases da vida — e isso começa com informação e empatia.

Bibliografia

Gerhardt, P. F., & Lainer, I. (2011). Addressing the Needs of Adolescents and Adults with Autism: A Crisis on the Horizon. Journal of Contemporary Psychotherapy, 41(1), 37-45. https://doi.org/10.1007/s10879-010-9160-2